Na edição deste ano, Salão Internacional de Humor de Caratinga presta reverência aos trabalhos de Ivan Capúa e Luís Pimentel
Na próxima terça-feira (18), às 20h, acontece a abertura do Salão Internacional de Humor de Caratinga. O evento segue até o dia 28 de junho. Os trabalhos selecionados para a mostra competitiva nas categorias caricaturas, charge/cartum e história em quadrinhos abordando o tema “Diálogo”, serão expostos na Casa Ziraldo de Cultura.
E uma das características do Salão Internacional de Humor de Caratinga é prestar homenagens a personalidades que se destacam no setor cultural. Nesta edição, os homenageados são ao ator Ivan Capúa e jornalista e escritor Luís Pimentel.
O DIÁRIO conversou com ambos, que falaram de suas carreiras e de como se sentem com está homenagem.
IVAN CAPÚA
O ator Ivan Capúa nasceu no distrito de São João do Jacutinga, quinto de sete fi lhos; com 1 ano de idade, a família mudou-se para Caratinga. Atualmente, vive em São Paulo. Ivan Capúa conta com mais de 70 espetáculos no currículo e pode ser visto em fi lmes e séries de grande sucesso como ‘Carandiru’, ‘Bruna Surfi stinha’, ‘Hebe’, ‘Sintonia’ (Netfl ix), ‘Jogo da Corrupção’ (Amazon Prime).
Qual seu veículo preferido: cinema, teatro ou televisão? Por que?
Não tenho um veículo preferido, porque cada um é uma linguagem diferente. A minha base é o teatro, a base de todo ator deveria, pelo menos, ser o teatro. Comecei ainda criança em Caratinga, então, essa é a minha base. E o contato com o cinema só veio bem depois, já na década de 90, em Belo Horizonte, e depois aqui (em São Paulo) e a televisão também. E são três linguagens distintas. O teatro tem uma proximidade, uma resposta imediata. O público está ali, é ao vivo, e cada dia é um dia, cada espetáculo é um espetáculo. Porque você é uma pessoa hoje e outra amanhã. O público é um hoje e outro amanhã. Isso é muito legal, isso é muito desafi ador. Já o cinema te permite trabalhar mais profundamente o personagem, você ensaia. Agora a gente está podendo refazer muito, porque quando era película não podia queimar fi lme, a expressão ‘queimar fi lme’. Hoje em dia, com a era digital, a gente já pode fazer várias vezes e é uma coisa mais minimalista. Bom, enfi m, não consigo dizer qual é a melhor, não. Eu amo os três.
O mercado é concorrido, mas existe uma receita para vencer no audiovisual no Brasil? Não. Não existe uma receita para vencer no audiovisual. É uma coisa talvez de sorte mesmo. O ator é meio como um jogador de futebol. Você vê um jogador de futebol, tem jogadores maravilhosos, magnífi cos, que dão show nesse Brasil afora e não conseguem um destaque num time maior, ou mesmo na seleção. Então, não existe uma receita. A receita que eu diria é fazer bem o seu trabalho e contar com um pouco de sorte.
É uma pergunta delicada, mas qual o melhor diretor de cinema com quem trabalhou? Por que?
Não tenho o melhor diretor, porque todos com quem trabalhei até hoje, além de muito competentes, muito sérios, muito efi cientes, todos foram muito delicados, muito gentis, muito educados comigo. E não dá para falar que é o Héctor Babenco, Maurício Farias ou a Lina Chamie. Eu não consigo... Cada um é cada um. Não tenho o melhor para mim.
Vemos sua participação em seriados. Claro que este tipo de programa sempre houve no Brasil. Mas ao que credita esse acréscimo de seriados feitos aqui nos últimos anos? Sem dúvida nenhuma, o acréscimo de seriados aqui vem graças aos streamings. Depois que a Netfl ix começou a produzir, vieram Amazon, Prime Vídeo, HBO... Embora ainda esteja longe do ideal, porque é uma questão política. Até a gente viveu um período muito sombrio, onde a arte e a cultura foram relegadas como coisa inútil e só se consumia o que é de fora. O Brasil tem mesmo um complexo de vira-lata, ou seja, “o que é de fora é bom”. Eu já ouvi várias pessoas, “eu não vejo nada que é brasileiro”, claro, preferem os blockbusters, preferem as produções norte-americanas ao cinema francês. Aqui são só os blockbusters que são considerados cultura, arte, infelizmente. Mas com a chegada do streaming e vamos ver se esse Congresso que está aí fi nalmente aprove. Talvez tenha até um aumento, um fomento maior das produções nacionais, que ainda está muito aquém do ideal.
O senhor é um ator prolífico. Seu rosto está em várias produções. Então, passa ser algo familiar. Acontece das pessoas te identifi carem nas ruas e custarem a fazer a associação de onde te conhecem?
Com certeza, sem dúvida, acontece muito isso no metrô, no ônibus, em fi las de cinema, fi las de teatro, na rua mesmo. As pessoas passam e me olham com aquela cara de eu conheço de algum lugar. Já me perguntaram, “você mora lá em Cangaíba?” (distrito situado na zona leste do município de São Paulo), “você é meu vizinho, eu te conheço de algum lugar”, mas com a sintonia aqui em São Paulo. Engraçado que quando estive em Inhotim, um garoto me reconheceu pela voz, acredite, pela voz ele me reconheceu. Ele me olhou, eu estava de máscara, ele olhou no meu olho, aí falou, “parece que eu te conheço”; falei, “você tem certeza?”. Aí ele respondeu: “Essa voz, é o agiota do ‘Sintonia’, o Miro”. Então, acontece muito. Mas com ‘Sintonia’ tem acontecido de já identifi carem mesmo. Assim, quase famoso eu sou, né?
Como se sente ao ser homenageado pelo Salão Internacional de Humor de Caratinga? Me sinto extremamente honrado, agradecido e só tenho a agradecer. Mais uma vez agradeço aqui de público ao Salão, ao Edra e a todos os caratinguenses. Agradeço muito, estou muito honrado, muito feliz. Espero poder ir, tomara que dê para ir. Não acredito que seja possível, mas enfi m, vamos ver.
Nos fale um pouco da sua ligação com Caratinga.
Em Caratinga já não vou há algum tempo, porque toda a minha folga, todo o meu período de descanso, viajo para ver minha mãe. Ia muito a miúde quando a mamãe morava em Caratinga, mas ela depois fi cou muito idosa e aos 92 já estava dependendo mesmo e a gente achou por bem que ela mudasse para Betim, que é a casa da minha irmã, que é uma casa grande, com jardim e Caratinga estava fi cando muito perigoso para ela, né. Ela adorava ir ao mercado, atravessar a rua Raul Soares, ela morava na vila, atravessar e ir ao mercado, ir à igreja e ela já não estava mais conseguindo por conta da idade, a audição, a vista, estava perigoso realmente. E desde que ela se mudou, eu não voltei, mas eu tenho muita saudade, porque eu ainda conservo muitos amigos queridos aí em Caratinga. Tem muita gente boa que eu gosto, pessoas da minha infância, da minha adolescência, da minha juventude que eu preservo. A gente tem uma relação meio só mesmo virtual, pelas redes sociais. Mas eu pretendo ir, sim. Eu gosto muito.
LUÍS PIMENTEL
Luís Pimentel, Edra, Ziraldo e Nani - Salão Carioca de Humor 2007 (Foto: Arquivo) Jornalista e escritor Luís Pimentel (Foto: Divulgação) O jornalista e escritor Luís Pimentel, baiano, radicado no Rio de Janeiro, é o outro homenageado pelo Salão Internacional de Humor de Caratinga. Cronista do jornal “O Dia”, foi parceiro do Ziraldo na editoria do Opasquim e Revista Bundas. Colaborou com várias publicações de humor do país – Mad, Ovelha Negra, PQP e Papa Figo e escreveu para os programas humorísticos de televisão Chico Anysio Show, Escolinha do Professor Raimundo e Zorra Total. Entre dezenas de livros publicados consta “Entre Sem Bater – O humor na imprensa: do Barão de Itararé ao Pasquim21”.
Qual obra que leu e lhe inspirou a ser escritor? Por que?
Não fui inspirado por nenhuma obra específi ca; talvez, pelo conjunto das obras lidas, porém mais motivado pela vida do que pela literatura. Os fatos vividos e observados inspiraram mais do que os livros.
Como é seu processo criativo? O senhor consegue escrever mesmo não estando inspirado? Consigo escrever a qualquer hora e em qualquer circunstância, desde que tenha um objetivo ou uma encomenda. A formação de jornalista me levou a esta disciplina.
Qual dica daria para escritores iniciantes? Escrevam, leiam muito e, sobretudo, releiam até cansar o que escreveu. Um texto nunca está pronto. Nem Graciliano Ramos escrevia de primeira. O senhor permeia entre contos, crônicas, textos humorísticos, infanto-juvenis, poesias, biografias e ensaios sobre música brasileira.
Como é ser eclético?
É da minha natureza na criação. Não consigo ficar preso a um gênero literário apenas; gosto de fazer tentativas por vários caminhos. Talvez isso não seja bom, mas não consigo operar de outro jeito.
Sua antologia de poemas, ‘O Calcanhar da Memória’, tem esse título maravilhoso e enigmático. As memórias seriam nosso calcanhar de Aquiles?
Seguramente! Nosso calcanhar, viga de sustentação e tábua de salvação. Sem memória não há viagens internas. Por isso que quando a perdemos, acabou-se tudo. O senhor tem alguns de seus livros selecionados por programas federais como PNBE e PNLD. Qual a importância desses programas para o fomento da leitura entre os alunos. Tive alguns livros selecionados por esses programas. Eles são fundamentais, pois leva os livros a quem não pode comprar. E ajuda na sobrevivência de editores e autores. Obviamente essa questão não poderia faltar.
Como foi sua convivência com Ziraldo?
Foi a convivência mais criativa, salutar, estimuladora, afetiva, generosa e importante que vivi em toda a vida, tanto a pessoal quanto a profi ssional. Sinto falta e saudades!
Como se sente ao ser homenageado pelo Salão Internacional de Humor de Caratinga?
Me sinto feliz e honrado. Mas continuo achando que não sou merecedor, sem qualquer falsa modéstia. Há tanta gente com história de vida e de trabalho mais significativa.
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