segunda-feira, 21 de fevereiro de 2022

Divertida e Bem Humorada Celebração de Talentos Edra


     Vivemos momentos de crise bastante acentuados nos últimos dois anos, especialmente para aqueles que sobrevivem das artes e da cultura. Mesmo sem a menor condição de conseguir apoio e diante de tantas adversidades, decidi realizar o Salão de Humor de Caratinga este ano. Contudo, o maior desafio era apresentar um diferencial, foi quando me veio à idéia de prestar uma homenagem aos cartunistas e ao humor gráfico do Brasil. As charges estão perdendo espaço na mídia impressa que segue, a passos largos, rumo à extinção. As redes sociais recebem conteúdos gratuitamente e os cartunistas, por sua vez, cada vez mais sem mercado, desmotivados sem que o seu trabalho consiga o alcance e a força de outrora. Somam se a estes fatores o fantasma da censura que volta a nos assombrar ameaçando uma liberdade conquistada à duras penas e a dor da perda de tantos baluartes do cartum brasileiro. 
    Imbuídos na proposta de ter os próprios cartunistas como tema, foi lançado o “Festival Jal & Gual”, em homenagem a José Alberto Lovetro e Gualberto Costa. Os nomes me vieram automaticamente, tanto pela sua pertinência quanto pela gigantesca admiração que nutro por eles e que, tenho plena convicção, é compartilhada com a maioria dos colegas que militam neste universo e que reconhecem nesses dois como um dos principais pilares do nosso humor gráfico, dois queridos amigos, agregadores e com uma extensa bagagem de grandes realizações. 
    Eles também dão o nome aos troféus dos premiados e dos homenageados que fizemos questão de implantar para valorização àqueles, cartunistas e de outros profissionais, que dedicam se parte de seu tempo em prol do desenvolvimento do humor gráfico em nosso país. Pelo seu ineditismo, formamos uma lista de 60 nomes para tentar minimizar a possibilidade de exclusões. Apesar da extensão, muito nomes ainda ficaram de fora da lista e que buscaremos recompor, sequentemente. O ônus desta lacuna que nos depara não nos cabe, mas iremos empenhar para supri-la. Pelo que se propôs e pela resposta alcançada, a implantação do festival será permanente na programação do salão, independente dos temas que virão a seguir nos próximos anos. 
    Uma iniciativa pioneira dentre os eventos similares no mundo e que enalteceu a profissão e incentivou, neste primeiro momento, a transpormos juntos essa dura travessia, utilizando do humor que nos move a favor de uma grande confraternização da classe. Cada cartunista pôde prestar a sua homenagem aos colegas de traços através de caricaturas, charges, cartuns e histórias em quadrinhos - categoria implantada nesta edição. Sem premiação em dinheiro, o caráter competitivo ficou ainda mais irrelevante, o clima descontraído veio à tona. Contamos com a participação dos jovens aspirantes, ávidos a difundirem o seu potencial, junto aos grandes talentos da atualidade e aos nossos adorados mestres que tanto nos inspiram. A maioria deles, há anos, sem participar de eventos desta natureza. Quem captou a nossa proposta, ou não se fez de rogado, permitiu o desprendimento aflorar e ajudou a chancelar o sucesso desta diversão. Mesmo em tempos tão obscuros, os participantes celebraram a criatividade deixando o humor de pano de fundo, dando vazão às brincadeiras entre os colegas de traços, aproveitando uma boa oportunidade de serem alvos, de rirem, de zoarem de si próprios e principalmente de celebrar, com os seus talentos, a amizade e admiração entre os seus pares. O resultado – vocês podem constatar a seguir - surtiu um efeito surpreendente. Acredito, mais do que nunca, que devemos mostrar a nossa resistência através da arte e combater o mal, com humor, sempre!

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

Humor em Minas Gerais é Caratinga e o Seu Salão. JAL - José Alberto Lovetro


     O Edra, cartunista, pesquisador, editor, escritor e agitador cultural achou mais um tempinho pra homenagear os cartunistas do Brasil. Criou, em plena pandemia, dentro do Salão Internacional de Humor de Caratinga, em sua 16ª edição, o "Festival Jal & Gual" onde nos deu essa importância que nem a gente sabia sermos merecedores. Mas a maior homenagem é ao próprio Salão, um dos poucos que ainda temos sendo realizado a cada ano, porque sem a parceria do cartunista não haveria nenhum salão de humor no mundo. Ele, como bom mineiro, veio com essa ideia sabendo que hoje, sem espaço para publicar na mídia, ninguém mais que o próprio cartunista deve ser o tema do humor gráfico ao invés de ser apenas seu cartum. 
    Caratinga, todos sabem, é terra de Ziraldo e Zélio. Só por isso a cidade já disse a que veio na história das artes. E Edra é esse catalisador que faltava à cidade para que fosse também conhecida como a terra de todos os cartunistas e também de Ziraldo e Zélio. 
    Vendo as caricaturas que foram chegando para as categorias do Gual e do Jal, nos vimos pelas mãos de cada artista como a gente gosta de estar - em um desenho. Vale mil vezes mais que uma fotografia. Porque tem o filtro de um artista para o mundo paralelo da realidade engraçada. 
    Assim, na simplicidade, Edra fez algo que nunca foi tão necessário como agora - valorizar o humor gráfico através de seus criadores. Há um grito no ar da sobrevivência desse humor gráfico e esse grito está sendo realizado pelo Salão Internacional de Humor de Caratinga!        Que pandemia que nada! A nossa vacina é a risada! 
    Obrigado Edra, por nos vacinar contra a tristeza com essa dose total de esperança. 


JAL - José Alberto Lovetro
Cartunista e Jornalista
Presidente da ACB - Associação dos Cartuniostas do Brasil

sábado, 12 de fevereiro de 2022

Com Certeza Não Cometi Uma Heresia / Gual Gualberto Costa


     Vou transgredir ao pedido feito para escrever sobre o Salão Internacional de Humor de Caratinga e só irei falar do Élcio Danilo Russo Amorim, mais conhecido no mundo do cartum como EDRA. 
    Falar de Salão de Humor, temos obrigatoriamente que citar Fernando Coelho, o criador do primeiro, o Salão Mackenzie de Humor e Quadrinhos de 1973. Outros nomes são ligação direta aos mais importantes salões de humor do Brasil. Zetti, a Maria Ivete Araújo, e seus muitos anos dedicados às melhores edições do Salão Internacional de Humor de Piracicaba. Albert Piauhy que alargou as fronteiras do humor gráfico do país, colocando o Norte e Nordeste na geografia do cartum e da charge, com seu lendário Salão Internacional de Humor do Piauí. A brava resistência de Alexandre Clemente em perpetuar o Salão Internacional de Humor de Volta Redonda. 
    E o EDRA, que com poucos recursos, sempre batalhou com criatividade, e muitas vezes com verba do próprio bolso, para que seu salão não devesse nada aos maiores do mundo. Sempre com seu sorriso tímido e sua inseparável boina na cabeça, é figurinha carimbada em todos os eventos do humor gráfico no Brasil, tornando-se um especialista no assunto e em condições de renovar as fórmulas tradicionais. O Salão de Caratinga sempre se destacou pelas homenagens, primeiro ao conterrâneo Ziraldo, que fez a maioria dos cartazes do salão, e depois ao Zélio, Agnaldo Timóteo, Ruy Castro e Miriam Leitão, que também são seus concidadãos de Caratinga. Mas as homenagens ao Ziraldo foram além do possível, embora fundamental pela envergadura de nosso maior artista gráfico. Num país sem museu e espaços permanentes dedicados as artes gráficas, ele criou a “Casa Ziraldo de Cultura”, foi o fundador da Gibiteca Turma do Pererê e editou para a Melhoramentos o Livro “Ziraldo 85 – Ao Mestre com Carinho”, que foi premiado no 31º troféu HQMIX e resultou em uma exposição com o mesmo nome. 
    Mas as homenagens neste ano chegaram ao auge, com o reconhecimento e a premiação de importantes nomes do humor gráfico, 59 ao todo, além da criação de uma categoria com caricaturas de humorista gráficos. Neste ano eu e o JAL também fomos homenageados com o título de “Festival Jal&Gual”, e obviamente me senti muito orgulhoso, mas não tenho roupa para tal honraria. 
    EDRA, além do que já mencionei, é um fértil cartunista, só no Diário de Caratinga permaneceu por 13 anos, além da importante passagem pelos Jornais Correio Braziliense, Jornal de Brasília e Correio do Brasil. É autor de 27 livros e recebeu premiações em vários salões de humor do Brasil e do exterior. 
    Conhecido também por suas inumeráveis “selfies”(talvez o criador), tão em moda nos dias de hoje com os smartphones, arrebanhando nestas últimas décadas uma coleção invejável de fotos com os mais importantes artistas e os novíssimos, aqueles que em curto tempo ainda serão famosos e a quem dedica com seu salão todo o seu idealismo: Revelar os novos talentos. 
    Por tudo que já dedicou à arte do humor gráfico, não seria mais o caso de homenageá-lo, mas sim canonizá-lo. 
    Salve, Salve Santo EDRA, o protetor dos cartunistas!

Gualberto Costa
Editor e Pesquisador

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

Salão Exaltação / Zé Roberto Graúna


 

    Desde que acompanho a História da Caricatura Brasileira, durante as realizações dos salões de humor nacionais mais tradicionais, sempre foi habitual homenagear os nossos ídolos do traço humorístico. Já vimos exposições paralelas nos salões de Piracicaba, Laura Alvim, Pernambuco e outros homenageando nossos mestres, e até tivemos um evento, nos anos 1980, em Niterói, no Rio de Janeiro, cujo batismo exaltava Nair de Teffé, nossa mais importante caricaturista. Pode ser que eu me engane, mas creio que é a primeira vez na História dos salões de humor brasileiros que um evento dedica toda a sua edição justamente aos profissionais que fazem o humor gráfico resistir: os cartunistas. 
    Com o título de Festival Jal & Gual, homenagem à dupla José Alberto Lovetro e Gualberto Costa (e de quebra à Daniela Baptista), que há décadas promove o prêmio HQMix e diversos outros projetos culturais; o evento é um tributo a todos que batalham pela manutenção do mercado editorial e de artes, e exalta também os muitos jornalistas, pesquisadores, agitadores culturais e colecionadores que trabalham pela preservação da memória do Humor Gráfico Brasileiro. 
    Durante a maior tragédia sanitária da História, os brasileiros tiveram que conviver com claras ameaças à Democracia, com manifestações que atingiram o Humor Gráfico Nacional, como nos casos da abertura de inquérito por parte do Ministério da Justiça contra uma charge do Aroeira (que gerou o movimento “Charge Continuada”), e a ação inédita, descabida e estapafúrdia de um imbecil travestido de vereador que atacou o 48º Salão Internacional de Humor de Piracicaba. Se não bastasse toda a crise política brasileira – a maior da História Republicana, ainda perdemos Alexandre Clemente (criador do Salão de Humor de Volta Redonda) e alguns dos maiores nomes do desenho nacional como Daniel Azulay, Lan, Mariano, Ota, Nani, Tacho, Lailson, Joanfi e Biratan Porto. 
    Que o 16º Salão Internacional de Humor de Caratinga nos sirva como um alento e nos conforte por tantas perdas inesperadas. Que o presente salão, especialmente para nós que atuamos como desenhistas de humor e organizadores de eventos do gênero, nos alimente com esperança de melhores dias para o nosso mercado editorial, a ciência, a educação, as artes e a cultura. 
    Saúde e Arte!

Zé Roberto Graúna
Cartunista e Pesquisador