Vivemos momentos de crise bastante acentuados nos últimos dois anos, especialmente para aqueles que sobrevivem das artes e da cultura. Mesmo sem a menor condição de conseguir apoio e diante de tantas adversidades, decidi realizar o Salão de Humor de Caratinga este ano. Contudo, o maior desafio era apresentar um diferencial, foi quando me veio à idéia de prestar uma homenagem aos cartunistas e ao humor gráfico do Brasil. As charges estão perdendo espaço na mídia impressa que segue, a passos largos, rumo à extinção. As redes sociais recebem conteúdos gratuitamente e os cartunistas, por sua vez, cada vez mais sem mercado, desmotivados sem que o seu trabalho consiga o alcance e a força de outrora. Somam se a estes fatores o fantasma da censura que volta a nos assombrar ameaçando uma liberdade conquistada à duras penas e a dor da perda de tantos baluartes do cartum brasileiro.
Imbuídos na proposta de ter os próprios cartunistas como tema, foi lançado o “Festival Jal & Gual”, em homenagem a José Alberto Lovetro e Gualberto Costa. Os nomes me vieram automaticamente, tanto pela sua pertinência quanto pela gigantesca admiração que nutro por eles e que, tenho plena convicção, é compartilhada com a maioria dos colegas que militam neste universo e que reconhecem nesses dois como um dos principais pilares do nosso humor gráfico, dois queridos amigos, agregadores e com uma extensa bagagem de grandes realizações.
Eles também dão o nome aos troféus dos premiados e dos homenageados que fizemos questão de implantar para valorização àqueles, cartunistas e de outros profissionais, que dedicam se parte de seu tempo em prol do desenvolvimento do humor gráfico em nosso país. Pelo seu ineditismo, formamos uma lista de 60 nomes para tentar minimizar a possibilidade de exclusões. Apesar da extensão, muito nomes ainda ficaram de fora da lista e que buscaremos recompor, sequentemente. O ônus desta lacuna que nos depara não nos cabe, mas iremos empenhar para supri-la. Pelo que se propôs e pela resposta alcançada, a implantação do festival será permanente na programação do salão, independente dos temas que virão a seguir nos próximos anos.
Uma iniciativa pioneira dentre os eventos similares no mundo e que enalteceu a profissão e incentivou, neste primeiro momento, a transpormos juntos essa dura travessia, utilizando do humor que nos move a favor de uma grande confraternização da classe. Cada cartunista pôde prestar a sua homenagem aos colegas de traços através de caricaturas, charges, cartuns e histórias em quadrinhos - categoria implantada nesta edição. Sem premiação em dinheiro, o caráter competitivo ficou ainda mais irrelevante, o clima descontraído veio à tona. Contamos com a participação dos jovens aspirantes, ávidos a difundirem o seu potencial, junto aos grandes talentos da atualidade e aos nossos adorados mestres que tanto nos inspiram. A maioria deles, há anos, sem participar de eventos desta natureza. Quem captou a nossa proposta, ou não se fez de rogado, permitiu o desprendimento aflorar e ajudou a chancelar o sucesso desta diversão. Mesmo em tempos tão obscuros, os participantes celebraram a criatividade deixando o humor de pano de fundo, dando vazão às brincadeiras entre os colegas de traços, aproveitando uma boa oportunidade de serem alvos, de rirem, de zoarem de si próprios e principalmente de celebrar, com os seus talentos, a amizade e admiração entre os seus pares. O resultado – vocês podem constatar a seguir - surtiu um efeito surpreendente. Acredito, mais do que nunca, que devemos mostrar a nossa resistência através da arte e combater o mal, com humor, sempre!